Técnica e Estilo
O domínio técnico é essencial para a execução artística, mas não para a estilização
Provavelmente, a maioria dos leitores desta revista sabem quem era Wolfgang Amadeus Mozart, mas, poucos devem saber quem era Niccolà Paganini. Ambos eram músicos do século XVIII e compositores. Paganini tornou-se uma celebridade por causa de sua excepcional capacidade técnica de tocar o violino e compôs obras que acentuavam o virtuosismo técnico. Mozart também era um prodigioso intérprete ao piano, mas entrou na história como um dos maiores compositores de todos os tempos, cujas obras são entre as mais interpretadas atualmente. Perceba-se que damos muito mais valor ao compositor do que ao intérprete, porque, sem a composição, não há nada para interpretar.
Nas artes visuais vemos milhares de pessoas que possuem técnica: pessoas que sabem pintar, desenhar ou esculpir bem. Nos sites da internet é fácil encontrar obras que impressionam pelo virtuosismo: obras laboriosamente elaboradas, quase fotográficas. Difícil é encontrar trabalhos que nos dão uma nova visão de qualquer aspecto da realidade, que nos emocionam e fazem pensar. Em outras palavras, há muitos artesãos habilidosos, mas os artistas são raros.
No mundo da beleza ocorre o mesmo. Há milhares de cabeleireiros e maquiadores com excelente técnica, mas muito poucos que sabem criar um estilo. É ainda mais raro encontrar profissionais que conseguem desenvolver um estilo personalizado para cada um de seus clientes. Um hairstylist, ou designer da imagem pessoal, impressiona pela capacidade de criar uma imagem que valoriza todos os aspectos de sua cliente e que torna transparente sua essência mais bela. Através dessa imagem, a pessoa se percebe e os outros a veem numa dimensão ampliada. Evidentemente, a imagem precisa ser executada com muita técnica, mas a habilidade artesanal é ofuscada pela expressão da imagem. Aliás, não é preciso que o criador da imagem execute o trabalho, assim como o estilista de moda não costura as roupas que cria e o arquiteto não constrói os prédios que concebe. Eu mesmo não consigo cortar um cabelo, ou maquiar um rosto, mas sei indicar o que um profissional deve fazer para expressar a intenção de um cliente, como tenho feito em palestras, workshops e entrevistas de TV. Sei criar um estilo personalizado, mas não sei executá-lo.
É necessário dominar a técnica para executar um trabalho de arte, mas para criar uma obra, para ser criativo, é preciso ter, também, domínio de linguagem, sensibilidade e, principalmente, conteúdo.
Mas, o que é técnica? Dominar a técnica quer dizer, simplesmente, saber utilizar as ferramentas, da área em que se trabalha, e saber obter os diversos efeitos possíveis. A habilidade é conseguida por meio de muito treino. Nada disso tem a ver com estilização! O problema é que, na maioria dos cursos, em todas as áreas, ensina-se a técnica enquanto um procedimento é demonstrado e o aluno o cópia. Isso ocorre quando se demonstra um corte, passo-a-passo, quando se mostra como conseguir um tipo de maquiagem, fazer uma micropigmentação, ou combinar vestimentas para obter um determinado estilo. O resultado é que se confunde técnica com estilização.
Estilização é a construção da imagem, que expressa uma intenção. Ocorre numa etapa anterior à da execução do trabalho: na mente do estilista. É por isso que Leonardo da Vinci dizia que a "arte é coisa mental". Se souber desenhar, o estilista pode colocá-la no papel e depois entregar o trabalho a outro para executar.
O estilista é um artista, não meramente um artesão habilidoso. Necessita outros conhecimentos, além dos técnicos. Precisa saber como uma imagem e a linguagem visual funcionam: os princípios de equilíbrio visual, de proporção e harmonia, de forma, planos e profundidade, de volume e de cor. Com esse conhecimento ele sabe construir uma imagem que expressa uma intenção, não importa a técnica, nem a superfície ou área. Pode ser em qualquer área das artes visuais.
Mas, preste atenção na palavra intenção. Sem uma intenção, não há arte e a técnica e o conhecimento da linguagem visual de nada servem. E isso quem deve decidir é o cliente. Descobrir o que o cliente deseja expressar, saber traduzir essa intenção numa imagem e, depois, ter técnica para executar o trabalho: ISSO É VISAGISMO.
O visagista é o cabeleireiro que se tornou artista, um verdadeiro designer da imagem pessoal.
Por ₢Philip Hallawell
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