Minha História
Eu sou Philip Hallawell, autor dos primeiros livros sobre Visagismo no mundo, que estabeleceram o conceito do Visagismo.
Meu trabalho na área da beleza começou em 2001, quando nada existia sobre a criação de uma imagem verdadeiramente customizada. Foi um início despretensioso, mas, nestes últimos anos, esse conceito que criei penetrou todos os cantos do mercado de beleza numa velocidade impressionante. Tem sido uma jornada emocionante.
Mas...tudo começou 35 anos antes, em 1971, num dia ensolarado em Londres, quando eu, um jovem artista, de apenas 20 anos de idade, caminhava na King’s Road.
Sou uma pessoa que precisa criar, como artista plástico, escritor ou arte-educador. Criei e apresentei a série À Mão Livre – a linguagem do desenho na TV Cultura, nos anos 1990. E criei o Visagismo.
Minha mente é associativa, o que significa que, quando conheço algo novo, procuro encontrar associações com aquilo que já conheço. E foi isso que aconteceu naquele dia na King’s Road, em 1971.
Eu estava morando em Londres, desenvolvendo meu trabalho como artista, embora, naquela época, não sabia se tinha talento para seguir esse caminho. Sempre gostava de desenhar, desde minha infância, em São Paulo, mas, aos 17 anos esse gosto se transformou numa paixão e numa necessidade. Em Londres passava 10 horas por dia desenhando, procurando dominar a linguagem visual e técnicas e, ao mesmo tempo, desenvolvendo meu estilo, minha linguagem e minha temática. Enfim, criando minha arte.
Era o verão de 1971. Alguns meses depois conheci a Sonia, com quem estou casado há quase 50 anos e que foi minha musa, parceira e cumplice durante essa longa jornada. Criamos tudo junto. Eu dou forma às nossas criações e ela coloca os trabalhos no mundo. Uma jornada de bem-aventurança.
E, naquele dia, encontrei meu amigo Paul, enquanto caminhava na King’s Road. Ele carregava um livro, que me mostrou. Um livro que mudaria minha vida. O Homem e seus símbolos de Carl Jung. Emprestou-me o livro porque dizia que tinha muito a ver com minha arte.
Eu usava muitos símbolos no meu trabalho, então fui associando tudo que lia com o que eu estava fazendo. No livro, Jung fala de símbolos arquetípicos, que são símbolos universais que formam a linguagem dos sonhos e são compreendidos pelo inconsciente coletivo. Ao ler o livro, percebi que os símbolos que eu usava tinham um significado muito mais profundo do que imaginava, mas que eu compreendia intuitivamente e que estavam de acordo com minha intenção. Mas, de repente, percebi algo diferente. Algo que Jung não dizia.
Ele falou sobre o significado das formas geométricas, que são símbolos arquetípicos e menciona que, inconscientemente, o homem usou esses símbolos em diversas ocasiões, em construções e em artefatos. Eu, então, poderia usá-los conscientemente nas composições das minhas imagens. Pois, toda composição é feita baseada em formas geométricas.
A associação dos símbolos arquetípicos com a linguagem visual, foi o início da criação da minha teoria Image ID. Naquele momento eu não tinha ideia de onde tudo isso ia me levar, muito menos da criação de uma arte revolucionária, o Visagismo.
O Visagismo é fruto desta trajetória de 35 anos, repleta de aprendizados, associações e insights, tanto minhas como da Sonia, da incorporação da teoria dos temperamentos e muitas outras associações com trabalhos de antropologia, antroposofia, psicologia e sociologia e, finalmente, da associação de tudo isso com a teoria do cérebro emocional de Joseph LeDoux, que aconteceu em 1998. Hoje estamos investigando o papel da física quântica nisso tudo, mas isso é outra estória.
Por trás de tudo isso há a crença que a imagem pessoal estabelece a identidade visual de uma pessoa. E há uma filosofia de vida criada nos anos 1960 na Inglaterra e nos EUA, na qual estruturei toda minha trajetória e que está em sintonia com a filosofia de vida da Sonia.
Em 1961, meus pais, que eram anglo-americanos, me mandaram, com meu irmão, para uma escola na Inglaterra. A escola era um internato. Viajávamos de volta ao Brasil duas vezes ao ano e nas outras férias uma tia e um tio-avô cuidavam de nós. Aos meus 15 anos, ganhamos a confiança dos nossos pais e pudemos ficar sozinhos durante o período entre a chegada em Londres e o início das aulas. Eram 2 ou 3 dias em que pude mergulhar na revolução cultural que estava acontecendo em Londres.
Era uma revolução conduzida através da música e da moda, mas que atingia todos os costumes sociais. Uma revolução motivada pela busca do direito da liberdade de expressão; do direito de se expressar autenticamente e de conduzir sua vida por caminhos de livre escolha e não determinadas por convenções da sociedade.
Conheci o nascimento desse movimento no Marquee Club, onde três bandas tocavam toda noite (por um ingresso de 10 pence); The Yardbirds, The Kinks, The Who, The Rolling Stones, John Mayall, com os seus guitarristas, Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Era o berço do rock inglês, que transformaria o mundo.
Perto de lá, no Soho, tinha a Carnaby Street, onde se via as minissaias, as calças boca-de-sino e os rapazes com cabelos compridos. E, em Chelsea, surgiu a moda da King’s Road, com Mary Quant e Vivienne Westwood.
Esse conceito, da liberdade da expressão, é central ao Visagismo. Nas décadas seguintes, esse direito foi conquistado, então, agora, a questão é: já que temos essa liberdade, então, o que desejamos expressar?
Essa filosofia foi reforçada em mim quando ingressei em Haverford College, nos EUA, perto de Filadélfia. É uma faculdade estabelecida por Quakers no século XIX, que tem um código de honra e uma filosofia de liberdade de expressão e de ação, porém, com um adendo: sua liberdade termina quando atinge a liberdade do outro.
Minha experiência em Haverford foi transformadora e enriquecida com a vivência de um período de muita turbulência social. Um período de conscientização social e do início das lutas pelos direitos das mulheres, minorias e pela preservação ambiental.
Nos anos seguintes incorporei tudo isso na minha arte e tive muito sucesso profissional. Depois, passei a introduzir minhas ideias na arte-educação, o que foi fundamental para estabelecer o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo numa referência em arte-educação. O método que comecei a desenvolver lá culminou na série da TV Cultura À Mão Livre – a linguagem visual e a publicação do livro homônimo, que influenciou centenas de milhares de jovens nos anos 1990.
E, em 2001, fui convidado pelo Senac SP para criar uma apostila, que resultou na criação do Visagismo. Só recentemente percebi que o Visagismo foi possível porque tinha criado algo muito maior, o Image ID, uma fusão de arte e ciência, que está se estabelecendo como uma nova ciência.
A nossa trajetória continua sendo desenhada e não sei para onde vai nos levar.
Image ID e o Visagismo foram lançados no mundo e já fizeram um impacto muito grande. Foram acolhidos por muitas pessoas e tenho certeza que há e haverá pessoas criativas que farão com que se desenvolvam e se transformem em novos conceitos, frutos de novas associações e insights, e, principalmente, que serão usados para criar muita beleza e para fazer o bem.
Espero que você seja uma dessas pessoas.