Visagismo Não é Visagisme
Quando você ouve a palavra visagismo, você a associa ao visagisme?
Origens e Diferenças
Quando você ouve a palavra visagismo, você a associa ao visagisme?
Muitas pessoas acham que visagismo é simplesmente a tradução de visagisme. Porém, a verdade é que são conceitos muito diferentes entre si.
Visagisme tem sua origem na França, em 1937, e se tornou um método que facilita a harmonização estética da imagem pessoal. Se aplica, principalmente, aos cabelos e, com certa aplicabilidade ao vestuário e aos óculos.
Visagismo tem sua origem em Londres, em 1971, e foi estabelecido no Brasil em 2003. É um método que permite analisar o temperamento do cliente e estimulá-lo a definir o que deseja expressar, por meio de uma consultoria, e usa a linguagem visual para criar uma imagem customizada para o cliente. Aplica-se a todas as áreas relacionadas à imagem pessoal.
Paris, o centro cultural mundial entre as duas guerras mundiais
Logo após o término da Primeira Guerra Mundial, por volta de 1920, Paris atraiu todos os grandes artistas, escritores, músicos e pensadores do mundo, que lá se encontraram, principalmente nos cafés e restaurantes no Quartier Latin, ao redor do Boulevard Montparnasse.
Os locais de encontro eram em 3 Cafés, lado a lado, No Montparnasse: Le Dôme, Le Select e La Coupole e, logo adiante, o La Rotonde que ainda existem hoje. Lá surgiram os maiores movimentos artísticos e literários do século XX, e se deu início à contracultura, pois quase todos eram materialistas, socialistas, ou comunistas, e seguiam as teorias nascentes da psicologia. Era um movimento que celebrava o materialismo e o intelectualismo e era essencialmente político e artístico. Por isso se posicionavam contra os princípios da alta burguesia e, para mostrar essa postura, começaram uma moda diferenciada, de libertação da mulher, evidenciada em vestidos soltos e cabelos curtos.
Foi quando surgiu a Coco Chanel e outros grandes estilistas, que criaram as principais marcas de alta costura da atualidade.
Fernand Aubry estava vivendo nesse ambiente quando criou o termo Visagisme, mas ele nunca estabeleceu seu conceito, porque não deixou nenhum livro ou método publicado. Percebe-se pelos fragmentos que sobraram de entrevistas e cursos, que ele estava pensando em algum tipo de despadronização.
Paris, aos poucos, deixou de ser o epicentro da vanguarda e, após a II Guerra Mundial, se transformou na capital da alta costura, da haute coiffure e do luxo, passando a representar a alta burguesia. Continuo, no entanto, sendo um polo importante de protesto político, evidenciado pelos protestos de maio de 1968.
O Visagisme também se transformou. Passou a ser padronizado, uma técnica para harmonizar o corte do cabelo e a maquiagem com o formato do rosto e o tom da pele. O termo caiu em desuso, até que, ao final dos anos 1980, Claude Juillard renovou o interesse no Visagisme, ao criar um método, que permitia avaliar as preferências estéticas dos clientes, por meio da análise do comportamento e dos gestos.
O método permite avaliar o estado emocional momentâneo de uma pessoa e perceber quais são suas preferências, em relação ao seu cabelo, mas se aplica ao público feminino. Não é um método que permite analisar o temperamento e muito menos a personalidade. Continua focando na estética, com o profissional indicando o que será esteticamente favorável à pessoa.
Londres, a contracultura dos anos 1960
O Visagismo, que nasceu no Brasil em 2003, tem sua origem em Londres e nas ideias que surgiram nos anos 1960. Londres se tornara a capital da contracultura, e da vanguarda da música, do teatro e da moda. E foi em Londres que se ouvia o clamor pela liberdade de expressão e o protesto contra uma sociedade que promovia o privilégio, a divisão das classes sociais e a exclusão.
A liberdade de expressão e a despadronização são os pilares fundamentais do Visagismo. Todo o processo gira em torno da pergunta, “O que se deseja expressar?”. Por isso, a consultoria é a parte mais importante do processo.
Esses anseios ganharam expressão na música popular, com os conjuntos de rock, como The Beatles, The Rolling Stones, The Who e Pink Floyd, entre muitos outros, cujas canções se espalharam pelo mundo, influenciando jovens e mudando o mundo. Paralelamente, os jovens começaram a se vestir de uma maneira diferente e usar cabelos longos, imagens que expressavam liberdade e falta de compromisso com padrões e uniformidade.
Primeiro em Carnaby Street, no Soho, ao lado dos clubes como o Marque Club e o UFO, onde as bandas de rock estavam aparecendo, e, depois, na King’s Road, em Chelsea, e na área de Kensington, surgiram as butiques onde essa nova moda era vendida. A moda era caracterizada pela minisaia, calças boca-de-sino, sweaters curtos, hot pants e camisas floridas e gravatas largas. As moças soltaram seus cabelos, numa demonstração de liberdade e descompromisso. A maquiagem ficou ousada e contrastante. Os rapazes também soltaram seus cabelos, que deixaram crescer e começaram a usar barbas e bigodes. Era o prenúncio do movimento hippie, que logo se assolou os EUA, oriundo do movimento beatnik.
Foi quando apareceu a Mary Quant, Vivienne Westbrook e a Biba’s, o símbolo máximo da “Swinging London”. O símbolo masculino dessa moda era Christopher Gibbs, que eu conheci em 1971. Em Beauchamp Place e no World’s End havia vários salões de beleza, que forneciam um atendimento personalizado, onde a regra era não padronizar. E foi quando Vidal Sassoon transformou a arte do corte de cabelo, introduzindo os cortes geométricos, o brushing e a coloração dos cabelos.
Veruschka, Twiggy e Jean Shrimpton se tornaram celebridades, as primeiras top models, junto com os fotógrafos David Bailey, Richard Avedon, Terence Donovan e Brian Duffy, entre outros.
Esse movimento também teve sua expressão no cinema e no teatro.
E o mundo mudou.
A liberdade de expressão foi conquistada. E ficaram, então, as perguntas: “E agora? O que você deseja expressar? Quem é você?” São perguntas difíceis de responder e que só podem ser respondidas pela própria pessoa.
A Criação do Visagismo
Passei minha adolescência e minha juventude nesse ambiente, primeiro numa escola tradicional na Inglaterra, com passagens por Londres, depois na faculdade de artes plásticos nos EUA e, finalmente, de volta a Londres, em 1970.
Em 1971, quando estava estudando arte 10 horas por dia, resgatando os fundamentos do desenho e desenvolvendo minha linguagem e estilo, descobri o trabalho do Carl Jung sobre símbolos arquetípicos, quando meu amigo Paul me emprestou com o livro Man and his symbols.
Percebi que poderia colocar a intenção do meu quadro na estrutura da composição, além da representação visual. O efeito foi extremamente poderoso. Logo percebi que as estruturas geométricas estão em todas as imagens e, por serem símbolos arquetípicos, isso faz com que qualquer coisa visual tem uma identidade visual, inclusive o rosto. Tinha descoberto por que consideramos o rosto como a sede da identidade. Isso também deu uma nova dimensão à criação da imagem pessoal, que passou a ser mais do que a criação de uma imagem com harmonia e estética. Significa que a imagem criada precisa expressar a personalidade da pessoa, senão não estará em sintonia com o senso de identidade.
Percebi, adiante, que, além das formas geométricas, as linhas e as cores são símbolos arquetípicos e, como uma imagem é essencialmente uma composição de linhas, formas e cores, toda ela é formada por símbolos arquetípicos que estabelecem o que a imagem expressa.
Comecei, então, a experimentar fazer a leitura do temperamento de uma pessoa, interpretando as linhas e formas contidas no rosto. Fiz com meus alunos de arte, que revelam seus temperamentos quando pintam e desenham. E os resultados foram exatamente o que previa. Daí tinha criado uma maneira de ler o temperamento no rosto de uma pessoa, num método muito mais simples e baseado em ciência, do que a fisiognomonia.
Conheci então o trabalho de Joseph Le Doux sobre o cérebro emocional e fiz a última associação. O seu trabalho indica claramente que os símbolos arquetípicos são processados emocionalmente e não racionalmente. Isso reforça a hipótese que o rosto é uma identidade visual e explica por que alterações na imagem afetam a pessoa emocionalmente e modificam seu comportamento.
Para completar a criação do método, utilizei as técnicas que tinha desenvolvido para estimular a criatividade, que, basicamente, estimulam a reflexão e o metapensamento.
Esse método não foi apresentado no primeiro livro Visagismo: harmonia e estética, porque ainda não podia provar que isso funciona. Então foi apresentado nas palestras e entrevistas que fiz ao longo de 2003 e, depois nos cursos que comecei a ministrar em 2004.
Percebe-se que as origens do Visagismo e o embasamento científico, artístico, social e filosófico são totalmente diferentes das do Visagisme.
VisagismO não é VisagismE.
Por ₢Philip Hallawell
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