Atração, Aceitação e Moda
Uma das necessidades básicas do ser humano é sentir-se aceito socialmente e ter um sentimento de pertencimento. Por outro lado, a rejeição é uma morte social e, em tempos primitivos, quando se dependia de um grupo, tribo, ou clã, significava literalmente a morte.
Depois de ser aceito, o ser humano busca atrair outros para si e, possivelmente, conquistar uma posição de liderança. Isso está relacionado à necessidade de sentir poder. Essa atração não é só sexual. É a vontade de atrair o outro em diversas situações pessoais e nas relações do trabalho. É ser atraente como parceiro, amigo, colega, líder ou como homem ou mulher.
A forma como a pessoa se veste revela muito sobre quem ela é e é uma ferramenta importante na busca da aceitação e da atração. O surgimento da moda foi uma das consequências desses dois impulsos básicos da natureza.
A moda estabelece padrões que permitem identificar grupos sociais.
Foto: @maxbelchenko by Envato
Nos povos primitivos, o modo de se vestir revelava a qual tribo uma pessoa pertencia e qual era sua posição dentro da comunidade. Os adornos, o cabelo, a plumagem e outros adereços tinham significados específicos. O ser humano descobriu como fiar e tecer há pelo menos 10 mil anos. A importância das vestimentas aumentou na medida em que a quantidade, variedade e qualidade dos tecidos cresceu e em que se desenvolveu a arte da costura, do corte e da modelagem.
No século XI já havia uma grande variedade de desenhos, modelos, tipos e qualidade de tecidos. O acesso a tecidos de qualidade e costureiros de grande habilidade começou a distinguir as pessoas de classes sociais diferentes e, dentro das classes mais privilegiadas, uma pessoa podia se destacar por um estilo. O modo como se vestia revelava seu senso estético, seu status financeiro e seu nível de requinte. A pessoa, porém, homem ou mulher, tinha de se vestir de acordo com os padrões, para ser aceita socialmente. O luxo e a beleza das vestimentas a ajudava a ser considerada atraente, ainda mais se soubesse ser criativa com suas vestimentas, e ela também obtinha influência sobre as outras. As vestimentas mais destacadas passaram a ser copiadas. Assim nasceu a moda.
No século XVIII, Marie Antoinette, na corte francesa, e Beau Brummell, na alta sociedade inglesa, tiveram enorme influência na moda da época.
A moda dos nobres era copiada pela classe média e, depois, pelos proletários, porém com menos riqueza e fineza, numa tentativa de ganhar reconhecimento e aceitação social e, eventualmente, ascensão social. E a criação de moda se tornou um instrumento de poder.
Observe que na atualidade ocorre o mesmo, mas os nobres não são os influenciadores. Certas personalidades, ou celebridades, com destaque na mídia, como cantores, atores, artistas ou pessoas com muitos seguidores nas redes sociais têm grande influência.
Jacqueline Kennedy, esposa do Presidente John Kennedy, nos anos 1960, foi um exemplo de personalidade que influenciou a moda clássica feminina. Seu chapéu foi copiado por milhões de mulheres e tornou o estilista Roy Halston famoso. Na mesma época, na Inglaterra, Christopher Gibbs, editor de Men in Vogue, teve grande influência na moda e personificava o que era chamado de Swinging London.
Muita moda, porém, nasce nas ruas e em comunidades urbanas, motivada por movimentos sociais, ou práticas de algum grupo de pessoas. Foi o caso da moda grunge e a moda que asserta a consciência negra, ou a moda dos rappers, skatistas e surfistas.
A dinâmica da criação de moda é a mesma. Alguém com personalidade e liderança entre um grupo começa a se vestir de uma maneira peculiar e é copiado por outros ao seu redor. Em seguida, esse estilo é copiado por outros grupos com afinidades, até que se torna moda. Ocasionalmente, essa moda pode permear outros grupos sem nenhuma afinidade, como aconteceu com a moda dos jeans rasgados, que transitou do punks ao grunge e hoje é usado pela classe média.
Foto: Kurt Cobain e Nirvana 1991
É irônico que, o que era um símbolo da contracultura e confronto com o establishment, acabou se tornando moda da classe média.
A moda é, portanto, uma padronização e um meio para que as pessoas possam ser aceitas pelo segmento da sociedade ao qual desejam pertencer. Porém, desde a revolução cultural dos anos 1960, a moda passou a ser pulverizada em cada vez mais segmentos. A moda, até então, refletia padrões e valores do segmento dominante da moda, porém cada vez mais pessoas adquiriram acesso à moda, cosméticos e salões de beleza, vindos de grupos que não pertenciam às classes dominantes e que tinham valores muito diferentes.
A necessidade de pertencer a um grupo é tão importante hoje como sempre foi, assim como a é a busca pelo poder e influência. Aceitação e atração são e sempre serão motivadores fundamentais do ser humano. O que mudou foi que as pessoas conquistaram o direito de se expressar.
A liberdade de se expressar através das vestimentas, assessórios e corte de cabelo conflita com a massificação e a padronização da moda. O desafio de cada pessoa hoje é mostrar, pela sua imagem, sua individualidade, o que faz com que ela seja vista como única e atraente, ao expressar suas qualidades de personalidade, seus princípios e seus valores, e ao mesmo tempo mostrar que faz parte de um grupo social que compartilha similaridades e objetivos.
O trabalho do profissional de beleza tornou-se muito mais complexo. Não basta que ele saiba o que “está na moda” e saiba reproduzir um estilo. Ele precisa aprender a conhecer seu cliente, identificar suas qualidades e fraquezas e ajudá-lo a definir o que deseja expressar. E, depois, precisa saber como realmente criar uma imagem personalizada, que não seja uma simples reprodução, ou adaptação, de um padrão pré-estabelecido.
BEM-VINDO À ERA DA CUSTOMIZAÇÃO!
Por ₢Philip Hallawell
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